Morgana Tolentino
Se o grande movimento de inclusão financeira acelerado pela digitalização já aumentaria naturalmente a importância da pauta da educação financeira, o baixo letramento financeiro do brasileiro que já participava do sistema dá um senso de urgência ainda maior para o tema.
No ranking global de letramento financeiro da S&P Finlit Survey, por exemplo, ficamos entre os 70 piores de um total de mais de 140 países, atrás de Madagascar e Togo, por exemplo. Em pesquisa nacional promovida pela ANBIMA entre 2017 e 2019, menos de 30% dos respondentes obteve nota máxima ao responder sobre temas básicos como inflação, juros e risco.
É verdade que a educação financeira já figura na agenda de trabalhos do Banco Central há algum tempo sendo, inclusive, um dos pilares da Agenda BC# desde 2019. A autarquia já vem promovendo projetos como a produção de cartilhas, cursos e diretrizes de melhores práticas indicando como as instituições financeiras devem promover educação financeira, sobretudo quando se trata de apresentar novos serviços aos clientes.
As iniciativas do BCB, no entanto, parecem ainda insuficientes diante do panorama apresentado, o que também é um indício de que o tema precisará estar sob os holofotes da agenda de cidadania financeira nos próximos anos. No entanto, desenvolver a educação financeira em um país continental e tão heterogêneo como o Brasil não é fácil.
Diante do histórico de atuação do BCB, a tendência é que se adote uma estratégia mista, com parte das iniciativas internalizadas pelo órgão de regulação financeira e parte designada às instituições participantes do SFN. Esse caminho, inclusive, já parece estar sendo iniciado, dado que houve uma expansão do projeto “Aprender Valor” desenvolvido internamente em meio à publicação do Comunicado nº 34.201, que destaca a necessidade de as instituições financeiras assumirem a responsabilidade pela educação financeira de seus clientes.
Ainda temos que esperar para ver o quanto essas iniciativas serão aprofundadas e se o Banco Central vai ou não desenvolver novas estratégias. Fato é que a bola claramente já está em jogo e a educação financeira é uma agenda que veio para ficar e crescer.
Morgana Tolentino é pesquisadora do Instituto Propague e mestra em Economia pela UERJ.